No ano passado, em 2019, o BRICS completou dez anos, o que nos impulsionou a examinar amplamente suas conquistas, seu potencial para o futuro e as limitações existentes no grupo. O ano de 2020 trouxe inúmeros desastres, tanto naturais como provocados pelo homem – os incêndios australianos, a crise iraniana, o desa o de controle de armas de destruição em massa, o Brexit, a guerra comercial sino-americana em curso e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19. Tudo isso tem sido um grande teste de estresse para a humanidade, Estados e instituições internacionais. Os poderes e as instituições falharam ao não proporcionar uma liderança genuína a partir de múltiplas crises. Enquanto isso, toda a história de formação e atividades do BRICS é sobre evolução e complementaridade benevolente ao atual sistema de relações internacionais. Todos esses desa os colocam novas tarefas e exigem um papel de liderança mais pronunciado por parte dos países do grupo. Será que isso se tornará possível? O que ainda falta para que o BRICS assuma essas responsabilidades e lidere o caminho?
Esta edição foi elaborada tanto para analisar o passado como para preparar o cenário para o futuro. Este número temático da Revista Tempo do Mundo apresenta dez artigos, que debatem com profundidade diferentes aspectos da articulação política. Essa discussão ganha maior importância em um cenário de generalizada crise de saúde pública, econômica e de governança global, precedida por um acirramento das tensões comerciais e tecnológicas entre as duas principais potências mundiais – Estados Unidos e China.
O momento atual exige o uso de todos os instrumentos disponíveis para estruturar a recuperação econômica. O BRICS possui ferramentas institucionalizadas, como a de nanciamento com o Novo Banco de Desenvolvimento (New Development Bank – NDB), mas precisa consolidar algumas, como as iniciativas em energia e ciência e tecnologia, e estabelecer outras, como as de agricultura, biodiversidade e respostas conjuntas a crises globais